Quem é mãe de múltiplos passa por situações bem inusitadas, e algumas recorrentemente desagradáveis. Uma delas é ver uma pessoa vindo na sua direção, e quando ela percebe que são gêmeos, solta aquele: "ai coitada, eu com um já fico louca"...
Bom, quem fica louca somos nós... por vários motivos, que não a quantidade de filhos que temos.
Primeiro: não precisamos de compaixão, precisamos de alguém que nos ajude a lavar a louça, dobrar a roupa, ou até pagar um boleto, por exemplo, quem sabe...
Segundo: uma mãe que diz que fica doida só com um filho, provavelmente achou que poderia ter filho e continuar lendo seu livro, assistindo seu programa de TV favorito, recebendo amigos e tendo a casa impecavelmente limpa e organizada, ou seja, idealizou algo que não existe. Ou então não está dando a atenção que seu filho pede, e ele dá um jeito de conseguir, nem que seja na marra e na birra.
Terceiro, às vezes a gente já tá bem cansada mesmo, ter gêmeos é bem cansativo, por mais organizada que se seja, e ouvir um comentário como esse não nos dá nenhuma motivação a mais, pelo contrário, nos faz pensar que somos mesmo umas coitadas. Ou nos leva a pensar que parecemos pandas de tanta olheira e que devemos gastar um pouco mais com maquiagem.
Isso acontece com quem tem gêmeos, em geral duas crianças.
Quando a gente tem gêmeos mais um, a coisa é diferente.
Além do "ai coitada", a gente escuta: meu Deus, que corajosa... meu Deus, que doida... meu Deus, essa menina não sabe o que é anticoncepcional.... enfim, todo mundo acha que pode se meter mais ainda na sua vida e perguntar como você engravidou tendo dois bebes pequenos, como você vive, como você ainda não se internou no pinel, além do odioso: mas tu laqueou né..??? (não, não laqueei, e sim, se eu ficar ryca e phyna eu quero mais filhos, só pra polemizar.. hehehe), ...
A verdade verdadeira é que as pessoas pensam que é muito pior do que realmente é.
O grande lance de quem tem, e ama, e cuida e educa vários bebês ao mesmo tempo é que a gente aprende a amar de verdade. Amar mesmo, aquele amor que se doa. A gente aprende que não vai mesmo tomar banho em paz, vai ter sempre um filho chorando na porta. A gente aprende que precisa se organizar e faz de casa um quartel general. A gente aprende a se dividir em 3, no meu caso, e entender a necessidade particular de cada filho (não é assim tão simples, mas a gente vai entendendo o processo aos poucos). A gente aprende a se esquecer. Se esquecer é meio complicado. Esquecer as suas necessidades é bem dificil. Compreender que num período curto da vida, eu não sou o centro do meu universo. ]É abrir mão de si mesmo.
Nesse momento, eu não sou o centro do universo. Nem do universo mesmo, nem do meu universo. TUDO gira em torno das necessidades dos meus filhos. Se comeram, se dormiram, se estão bem de saúde, se precisam brincar, ou descansar, se tem um programa de findi legal pra levá-los...
Mas eu não sofro por isso (pelo menos não nas 24 horas do dia... só uns 30 min...).
Eu percebi que isso vai passar, eles vão crescer e eu vou ter a minha vida inteira ainda pela frente. Eu os tive cedo, ainda tenho 25 anos (cof cof cof - mentira...). Tenho muito tempo pra investir na minha carreira. Tenho muito tempo pra investir no meu corpo (academia e afins de vaidade feminina). Tenho muito tempo pra investir no casamento. Mas tenho pouco tempo pra estar com eles, pra criar com meus filhos uma relação íntima, verdadeira, real... de confiança, de amor... Eu acredito que isso acontece e se firma nessa primeira infância, nesses primeiros anos de vida e de dependência emocional e física. E eu não quero, e não me permito perder isso.
Então, eu não sou uma coitada, nem uma doida, nem muito menos corajosa.
Eu sou alguém que aprendeu a amar.
Sou uma mãe que aprendeu a se doar, a doar o que há de melhor em si...
E alguém que consegue isso, não é uma coitada, é uma escolhida...!!!