quarta-feira, 8 de julho de 2015

Meu corajoso!

Miguel vem se queixando constantemente de dor abdominal. E feito muuuuuuuuuuuito, bom, vcs sabem: cocô. Levei no médico e pedidos de vários exames, incluindo exame de hemograma. Já me deu frio na barriga: o guri há anos não leva uma agulhadinha de nada (entendedores entenderão). Pensei: vou trabalhar com ele como era comigo (que fui furada milhões de vezes na infancia). Dói? doi. Muito? um pouco. Demora? não. Se ficar nervoso dói mais. Se tiver medo dói mais. Se não olhar dói mais. E vamos lá com o menino!

Chegamos na sala, o rapaz que tira sangue foi chamar alguém pra segurar. Eu pensei que fosse segurar alguma coisa, sei lá. Nem liguei.

Torniquete, abre e fecha a mão, fecha a mão e não abre. "O tio vai furar tá, é essa a agulha." E lá vai agulhada. 
Miguel tem uma crise de hiperventilação. Respira rápido e raso e eu digo: calma meu amor, já tá terminando, respira fundo e devagar, já vai acabar, eu to aqui contigo, pronto acabou.
Recebe os parabéns porque nem chorou e foi muito corajoso. Eu abro a porta e uma moça estátua parada na porta me pergunta: "ué?! nem chorou?! eu aqui pronta pra entrar na hora do berreiro!"
Não amiga, ele não chorou. Ele é muito corajoso e enfrenta seus medos. Ele respira fundo e vai na fé.
Saiu todo orgulhoso com seu curativo de bichinhos pra mostrar pra todos os amigos da escola e contar que nem dói muito tirar sangue. E nem precisa ser "segurado" por ninguém. 

Alias, essa história de precisar "segurar" vai render outro post. As pessoas acreditam muito pouco na capacidade das crianças né? E resolvem como? Na marra. Mas disso eu faço mais em outro post. 

quarta-feira, 18 de março de 2015

Há quase 5 anos

(Vou escrever relatando o que senti e vivi naquelas últimas horas gestando meus meninos. Não quer dizer que eu sentiria tudo da mesma forma novamente, e nem que tenha sido ruim ou bom. Foi como foi, e sou
grata ao caminho que trilhei. Isso não me impede de ver que poderia ser diferente, se eu fosse diferente. Aquela já não existe.E nem essa existirá amanhã.)

Lembro bem daquela última noite gestando. Eu não havia agendado a cesariana, mas há mais de 15 dias vinhamos acompanhando com cardiotocos e ultras quase diários o desenvolvimento dos meninos, que insistia em acusar "abaixo do percentil 10". Não havia muito o que fazer. Deveria fazer repouso, me alimentar bem, ficar atenta à movimentação intra-útero e aguardar qualquer sinal de maturidade (deles, a minha só teria uns 40 dias depois). Somado a isso, tive prurido gestacional, uma espécie de reação do corpo aos hormônios da gravidez. Eu me coçava inteira e tenho até hoje cicatrizes pelo prurido.

mais ou menos 5 meses.
mais ou menos 7 meses

15 dias antes do nascimento deles. por volta de 34 semanas.

Era um mês de março quente. Lembro de ficar no ar condicionado e com dois ventiladores, compressa gelada sobre os locais da coceira e ainda assim suar bicas.

Lembro também de ir fazer os exames reclamando muito. Não porque fosse chato (e era). Não porque aumentasse minha ansiedade (e aumentava). Não porque eu sabia, no meu coração, que estava tudo bem (e eu sabia). Mas porque eu estava tão entregue ao "lugar comum", ao "trabalhei até o dia de ganhar", ao "saí do trabalho e fui pro hospital", que eu achava muito porre ter que parar meus trabalhos para ir lá "perder" uma manhã fazendo exames. Eu não me orgulho disso.

Lembro que sentia muitas dores na pelve, e no corpo todo pelo inchaço. Lembro de sentir muitas contrações, sem dor e sem ritmo (pródomos). Lembro de aguardar ansiosa o tampão. Lembro de ter medo de fazer cocô e parir os filhos na privada (oh ignorância, como se fosse assim!). Lembro de estar tão cansada. De me sentir tão "coitadinha". Lembro de martelar em mim mesma: "gravidez de risco". E lembro de nem assim eu parar para cuidar de mim e dos meus filhos.

Estávamos com um projeto atrasado e eu cismei que só poderia parar quando finalizasse esse projeto. Passava a maior parte do tempo trabalhando no computador, apesar de muito inchada e irritada. Naquela noite fiquei até mais tarde trabalhando porque ia fazer uma ultra de manhã cedo e queria parar depois disso. Dormi mau, acordando de hora em hora e precisando de um guincho pra levantar. Acordei ainda pior. E fui.

36 semanas e alguns dias. Crescimento "abaixo do percentil 8". Placenta ok. Cordão fluxo ok. Bolsa aminiótica ok. Baixa na quantidade do líquido aminiótico. Duas circulares de cordão no gemelar 2. Os dois cefálicos.

Fomos pra casa e a primeira coisa foi ligar para o obstetra.
- "aham, tá... então vai tomar um café bem reforçado, com frutas, pão, leite, se abastece. Te encontro as 14.00 no hospital"
- "ai Dr., pra quê? não quero ir lá de novo"
- "hj seus bebês vão nascer, estava só esperando um sinal. a baixa do LA foi esse sinal."

(isso, isoladamente não seria indicação de cesariana. nem sei se no quadro geral seria. penso que poderia ter induzido o parto. mas honestamente, mais de um mês com restrição de crescimento, mesmo com tudo o mais ok. eu não havia estudado nada. eu não conhecia a indução de parto. eu tinha medo. muito medo. e fui pro hospital.)

aí vc pensa: finalmente ela vai parar né? terminar de arrumar a bolsa, sei lá. Nãaaao, querida amiguinha. Eu voltei pro computador e só parei porque deu 13.00 e todo mundo me xingou porque eu ainda não tinha ido tomar banho.

Tomei banho. Escovei cabelo. Me maquiei (aham, eu fui dessas, mimjulguem). E fui.

As 15.00 meus filhos nasceram.
E daqui pra frente eu já contei em outro post.

primeiros minutos de vida

primeira vez que peguei meus filhos no colo

reconhecendo meu bebê



  



roupa de prematuro ficando imensa!

Primeira mamada efetiva





dormi muitas noites assim.. e sinto muita saudade!



opa... parece que alguém dormiu... e não foi o bebê













Conto isso hoje, porque fazem 5 anos. Conto porque gostaria de ter vivido isso diferente, apesar de saber que naquela época eu não poderia viver isso diferente. Conto porque a cada véspera de aniversário deles eu relembro minuto a minuto. E me emociono. Não é nostalgia. Não é saudade. Não é culpa. Mas é forte, é real, é intenso.

Naquele dia meu mundo mudou. Naquele dia eu morri e renasci. Naquele dia minha vida começou. Naquele dia eu descobri o universo inteiro no meu colo. Naquele dia, com aqueles dois chorinhos, com aqueles dois ratinhos. Naquele dia.


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Como me descobri doula, ou por que doula agora?

Hoje é o dia da DOULA. Neste fim de semana eu fui certificada como DOULA pela DONA Internacional. Então hoje eu vou contar como eu me descobri doula. Sim, porque ninguém se torna uma doula. A gente já nasce doula, só que as vezes demora a descobrir. A história é longa, então busca um chá e senta confortávelmente.
                Eu fui uma adolescente muito normal. Até por volta dos 16 anos dizia que queria ter 6 filhos. 3 vezes gêmeos. Conforme fui crescendo alguma coisa mudou e eu passei a dizer que não queria filhos. Nenhum. Nunca. Não estava disposta a abrir mão da minha vida/carreira/casamento/sexo por um ser que ia me sugar até minha morte. Sim, era bem forte e eu sentia isso mesmo.
                Casei com 19 anos e durante 7 anos nem cogitei a possibilidade de engravidar. Aos 26 eu passei ver essa possibilidade não como o vampirismo de uma vida, mas uma possibilidade de amar. Nasceu o filho de uma amiga querida, o Francisco, que me adoçou muito. Nasceu minha sobrinha, Ana, que de tão meiga e amorosa fez brilhar a luzinha de maternidade. Depois de alguns dias com ela (que mora em São Paulo) eu me permiti pensar na possibilidade de engravidar. E engravidei. Uma única oportunidade e eu estava grávida. No início eu chorei, surtei, pirei, não queria, me bateu um desespero, tudo ficou cinza e apavorante. Aí veio a notícia que seriam gêmeos e tudo passou. Foi como se eu recebesse o recado: tu pediu quando adolescente e com a alma ainda pura, taí teu presente pra vida.
                 Tive uma gestação bem dodói. Fui uma gestante "de risco" (que não existia realmente, só na minha cabeça). Estudei sobre rotina, sobre amamentação, sobre personalidade e individualidade dos gêmeos, mas não sobre como eles nasceriam. Acreditava que o nascimento deve ser uma passagem tranqüila, serena, amorosa. Acreditava que o nascimento devia ser em casa, sob o aconchego do lar, com a energia única de quem vive ali e que ia deveria se estender assim íntimo até os 50 dias. Nessa época Gisele (a modelo) havia parido seu filho em casa e eu dizia: "ai, como eu queria que meus filhos nascessem em casa, mas eu não sou a Gisele e não tenho uma UTI na porta (um mito enorme que me fez sequer cogitar buscar informação segura)". Meus filhos nasceram de cesariana, por suspeita de RCIU (restrição de crescimento intra uterina) com 36 semanas, 1.900kg cada um. Eu não me emocionei no nascimento deles. Quando tomei a anestesia só pensava que estava inundando o corpinho puro dos meus filhos com remédio e drogas. Eles nasceram e ficaram muitas muitas muitas horas chorando no berçário longe de mim. Eu não vi seus rostinhos direito, não sabia se eram idênticos e a quem eu perguntava se estavam bem, se eram grandes, o peso, tamanho, cor de cabelos e olhos, se iriam pra NEO, sequer me respondiam direito. Eu estava sozinha pois meu marido não quis/pode entrar e minha acompanhante não chegou a tempo. E ninguém esperou. Eu estava sozinha no nascimento dos meus filhos.
                Ficou dentro do meu coração a sensação de que algo estava muito errado. Não era pra ser assim e eu queria e precisava de uma nova chance. Meu corpo precisava se limpar, precisava receber todos aqueles hormônios. Meu corpo, minha vagina precisava sentir o bebê passar por ele. Eu precisava parir para poder seguir. Eu estava decidida a ter mais filhos, quando os gêmeos tivessem 5 anos.
                Um mês depois de os gêmeos terem completado um ano, eu me descobri grávida. Não, eu não fiquei feliz. Eu só pensava: agora não! eu não to pronta, meu corpo não consegue parir agora, meu útero ainda não se recuperou, eu não posso parir agora. E rechacei qualquer possibilidade de pensar num VBAC. Não li, não pesquisei, eu pensava que tinha tido gêmeos, que meu útero havia se distendido demais e que não era como uma gestação normal que poderia parir em seguida. Eu senti dores na cesariana todos os dias. Eu senti dores no corpo todos os dias. Eu chorei até descobrir que era uma menina. Eu me isolei e escondi a gravidez. Eu me sentia dodói, como na primeira gestação. Catarina nasceu com 36 semanas, 2.650kg. Nasceu de madrugada, as 3 horas da manhã, e eu estava sozinha de novo (desencontros de idas e vindas pra buscar mala, fazer internação, etc). Novamente, eu recebi minha filha sozinha. Dessa vez não aceitei tricotomia, enema, pedi sonda só depois de anestesiada, e disse que queria minha filha ao meu lado na recuperação. Foi um pouco melhor.
                Passou um ano, ela foi pra escola, e eu tive tempo pra trabalhar. Voltei a ler sobre parto, sobre violência obstétrica, fui lentamente descobrindo o mundo da humanização do nascimento. Eu lia a palavra DOULA, achava que sabia o que era e ficava por isso mesmo. Um dia, lendo um blog que eu amava, a palavra doula brilhou na tela. Fui buscar saber o que era. E fui lendo. Fui lendo. Fui lendo. Foi uma catarse, uma hipnose, uma avalanche. Pesquisei cursos, pesquisei quem eram, pesquisei sua atuação. Uma luz abriu na minha frente. Era isso!!! Foi isso que eu procurei a vida toda. Eu quis ser sacerdotisa, para servir às pessoas. Eu quis ser arquiteta pra levar beleza pra vida das pessoas. Eu fiz cursos religiosos me aprofundando nesses temas. Fiz faculdade e abri um escritório de arquitetura com esta finalidade. E nada daquilo funcionava porque não era daquele jeito que devia ser. Tudo que eu havia estudado e lido até aquele momento sobre servir, sobre se doar, sobre estar disponível, sobre beleza, sobre arte, sobre amor, era pra me levar até aqui, até a doula. As minhas experiências de solitude eram pra me trazer até aqui.
                Encontrei uma doula na minha cidade. Iniciamos as Rodas de Gestantes e Mães, ganhei uma amiga e uma irmã de alma. O curso não saía, não conseguia me desligar dos meus filhos por tantos dias. Até que consegui tomar coragem e fui fazer um curso para doulas e parteiras com a Naoli Vinaver. Quanto aprendizado. Quanto crescimento. Quanta cura naqueles 3 dias.
                Na volta, alguns poucos meses depois, a doulamiga Fabíola ficou doente e não pode acompanhar uma parturiente em seu trabalho de parto. Eu fui atender juntamente com a enfermeira da equipe, Gabriela. Posso dizer que tive uma das noites mais lindas da minha vida. Vi na minha frente uma menina se transformar em uma mulher. Vi materializado o amor e quase pude tocá-lo. Era tanto carinho, tanta alegria, tanto respeito, tanto amor, tanta transformação, que posso dizer que nasci de novo, junto com aquela família.
                Pouco tempo depois  novamente a doulamiga não pode acompanhar uma cliente e eu fui lá atender seu trabalho de parto e parto. O primeiro bebê que eu acompanhei nascer. Antonio. Lindo, fofo, esperto, gordinho, filho de uma mãe guerreira, forte, poderosa, determinada. Antônio nasceu e eu finalmente pari a doula. Pari ali, junto com a Camila e o Fábio, pari a mim.          
                Depois daquele dia, não havia mais dúvida. Aquele era meu caminho, aquilo era o que me movia. Estar com aquelas mulheres naquele momento tão especial, tão único, tão forte. Poder oferecer a elas aquilo que me faltou tanto e que me machucou tanto. Poder ser ao menos o olhar de carinho na hora de medo e dor. Poder estar com elas. Não deixá-las sozinhas.
                Faltava a certificação que veio agora em dezembro. Mais quatro dias de curso, certificação internacional, aprendizado, motivação, experiência, troca e cura.
                Algumas pessoas me perguntam por que eu sou doula, o que me move, que sentimento me nutre. Muitos sentimentos se misturam e me levam às doulagens. Mas um é mais forte.
                Não gostaria que ninguém mais passasse uma gestação perfeita se sentindo dodói por falta de informação. Não gostaria que ninguém mais sentisse medo e desacredite no seu corpo. Não gostaria que ninguém mais se sentisse perdida, confusa e oprimida pelo sistema obstétrico. Não gostaria que ninguém mais acreditasse no mito da UTI na porta e visse minguar seu sonho por um parto intimista. Não gostaria que ninguém mais recebesse seu filho sozinha. É para isso que eu sou doula. Para oferecer às mulheres e famílias aquilo que me faltou, e o que quer que venha a faltar a ela. É para servir a estas deusas que eu quero ser doula. É para servir a estas famílias, estes bebês, a estas MULHERES.
                Eu já nasci doula. Eu não me tornei doula. Eu sou assim, eu gosto de cuidar, gosto de me doar, gosto de servir, é assim que sou feliz e é assim que cumpro a missão que o Universo confiou a mim.
               

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Desfralde 3 de 3.... e como tudo pode ser diferente e muito mais leve




Fui dar uma olhada na última postagem... caramba... faz muito tempo...!!!! huahuahuahuahu
Mudei muito de lá pra cá... muita coisa aconteceu, muitos pensamentos mudaram, comportamento, escolhas... Foi um ano de muito estudo, de muita leitura, de muita introspecção e revisão de comportamentos.
Só que a gente luta pra não mudar. Fazemos uma coisa de um jeito, e dá certo! Achamos que dará certo em todas as vezes e para todos os filhos, né? Tolinhxs que somos...!!!
Hoje eu vou contar sobre o desfralde dos gêmeos e o desfralde da não gêmea (ainda não consegui encontrar um termo pra definir...)

Gêmeos:

Existe um pensamento comum e muito difundido que o bebê deve ser desfraldado aos 2 anos (ou perto disso) e no verão. Mas, a Catarina nasceu em dezembro, e os meninos tinham 1a8m. Com um bebê recém nascido no colo, honestamente, não me restava tempo nem força física e mental de desfraldar criança nenhuma, quanto mais, duas. Fingi que não era verão e que não tinham quase dois anos (como reza a crença popular) e nem tentei desfraldar. Deixei rolar apesar dos comentários "mas esses meninos ainda estão de fralda?" Sempre com aquela resposta típica de uma puérpera bocuda e mau criada: "sim, porque? queres vir aqui limpar xixi e cocô do chão pra mim? fica a vontade"... Eu sei, delicadeza nunca foi uma qualidade.
Quando eles tinham 2a5m deu um veranico num feriadão de 7 de setembro, e eu achei que já estava pronta pra iniciar o desfralde. Pensei que seria uma coisa muito complicada e difícil. Li algumas coisas em grupos de mães de múltiplos e tomei coragem!
Já tínhamos um peniquinho e eu decidi que ele ficaria no meio da sala, onde eles brincam, pra não correr o risco de eles fazerem no trajeto até o banheiro. Comprei duas cartolinas, dois carimbinhos, muitas cartelas de adesivos e avisei a eles que eles já eram moços e usariam cuequinhas como o papai. Nas cartolinas eu escrevi o nome deles (uma cor para cada um) e anotei os dias da semana. A idéia era fazer um carimbo para cada xixi no penico e uma estrela dourada para cada cocô, além de um adesivo no penico para cada xixi também, criando uma espécie de competição por adesivos.
A cartolina do Miguel era verde, e o peniquinho também era verde. A cartolina do Henrique era azul e só tinhamos um penino verde. Miguel entendeu muito bem a idéia da coisa e passou a fazer mil vezes xixi no penico, duas gotas por vez, para ganhar mais adesivos e carimbos. Mas o Henrique se confundia e eu percebia que era em função das cores dos cartazes. Comprei um penico azul para ele (como o cartaz) e pronto. Xixis e cocôs no penico, várias vezes, para ganhar muitas estrelas douradas. O feriado era sexta feira. Ficamos neste processo de sexta a segunda feira. Na terça feira os mandei pra escola com adesivos, carimbos e estrelas douradas. Houveram alguns deslizes mas posso dizer que em uma semana os escapes cessaram e o desfralde estava concluído (mantendo a fralda noturna até por volta dos 3 anos).



Muito exibida que sou, ensinei a "técnica" para várias amigas e a maioria com sucesso.
Achei eu, que seria assim fácil com a Catarina também. Iludida.
Catarina:
Catarina fez dois anos em dezembro. Verão. Sabedoria popular: desfralde perfeito.
Ledo engano.
Quando iniciaram as férias eu conversei com ela e combinamos de não usar mais fraldas. Ela já tinha um peniquinho rosa e ainda tinha o peniquinho dos irmãos (que já usavam o vaso mas o peniquinho ficou). Comprei cartolina, comprei adesivos, repeti todo o roteiro. Catarina acertou durante os quase três meses das férias, uns cinco xixis no penico e nenhum, neeenhum cocô completo. Ela andava pelada (sem calcinha nem nada) pela casa e pelo quintal. E até na beira do mar. Ela fazia xixi de pé (como os irmãos). Fazia cocô na grama. Fazia tudo a prestação e não acertava quase nunca. Eu me descabelei, eu briguei, eu xinguei, eu fui muito grosseira, eu gritei demais, eu chorei absurdos pelo meu fracasso. Porque ela não conseguia, meu Deus? Fui passar uns dias na casa de praia de uma tia. Tinha xixi e cocô da Catarina por todos os cantos, mas ela não aceitava de jeito nenhum a fralda. Morri de vergonha. Insisti o verão todo, me desgastando, desgastando minha filha e nossa relação. Insisti uma semana depois do retorno às aulas. Nenhum acerto. Todos os dias roupas molhadas. Até que eu desisti. Sentei e conversei com ela, dizendo que finalmente tinha entendido que ela não estava pronta e que a respeitava e respeitava seu tempo. Colocamos a fralda e ficou acertado que ela faria o próprio desfralde porque eu já tinha me estressado demais e que não gastaria nem mais 10 minutos da minha vida ensinando a usar o penico ou vaso e que se ela quisesse, usaria fraldas até os 18 anos (coisa que eu sabia que não iria acontecer, né?). Sim, eu estava cheia de mágoa e raiva por não ter conseguido.
Li muita coisa sobre desfralde nesse tempo e uma das coisas que eu aprendi é que, por volta dos dois anos a criança passa a verbalizar "xixi e cocô", mas não quer dizer que esteja pronta para controlar. Ela simplesmente entende que aquele processo tem nome e a perceber as mudanças do seu corpo, mas não consegue controlar. Esse controle acontece em momentos diferentes para cada criança. Algumas controlam com 3 anos, outras com um pouco menos e outra com um pouco mais.
Há mais ou menos 1 mês, minha filha teve uma otite. Teve febre e precisou ficar em casa para ser medicada e poder se recuperar bem. Estava calorzinho e ela passou a segurar o xixi por tanto tempo que quando ia fazer, a fralda não segurava e vazava a roupa toda. Percebi isso por um dia todo e perguntei a ela se ela queria não usar mais fralda. Decidimos que no dia seguinte ela usaria calcinha. Mas entre o lugar onde ela brinca e o banheiro, para uma criança apurada, tem uma certa distancia. Ela acabava sempre fazendo em frente ao vaso. Nem sei onde andam os penicos que ela tinha então comprei um novo. Simplesmente coloquei no cantinho da sala. Não comprei cartolina nenhuma, nem carimbo nenhum, nem adesivo nenhum. Não fiz estrelinhas douradas e não fiquei perguntando de 10 em 10 minutos se ela queria usar o peniquinho. Eu sequer a acompanhei ao penico nenhuma vez. Simplesmente colocamos o penico no canto, mostramos a ela e pronto. Ela passou a usar. Ela vai sozinha, tira a roupa, faz xixi, vai se secar no banheiro, joga o xixi fora, dá descarga, sobe as roupas e se veste. Sozinha. Não deixa sequer que eu a seque. A única coisa que ela me permite fazer é limpar o bumbum, por enquanto.
Na semana seguinte a mandei pra escola. Não houve um único escape até agora. Nem em casa, nem na escola. Nenhum cocô fora de lugar e nenhum xixi na roupa. Nada, nenhum. E eu não fiz nada. Simplesmente deixei que ela ditasse e dissesse o momento em que estava pronta. E respeitei seu momento. Ela só aceita colocar a fralda para dormir na hora em que está indo pra cama, não sem antes fazer o último xixi no peniquinho (ou vaso, depende da vontade do momento). Vamos a supermercados, shopping, casa de amigos, e ela pede pra ir ao banheiro tranquilamente. Se é na casa de amigos, ela percebe onde é o banheiro e antes que eu a leve, ela já foi, e já volta com a roupa toda torta, mas de bexiga vazia.
Estou contado essa experiência porque o desfralde é um passo importante para a criança e para a família. Trás uma nova fase e uma nova consciência corporal para a criança, trás uma autonomia muito grande e precisa ser uma fase vivida com respeito ao tempo de cada um. Quantas crianças conhecemos que tem problemas de prisão de ventre por conta de um trauma no desfralde? Quantas precisam usar supositórios e tem dificuldades até a vida adulta?
Eu estava me encaminhando para isso com a Catarina, até que decidi retroceder e entender que os filhos não são robôs que fazem as coisas quando achamos que devem fazer, mas quando estão prontos para fazer.
E que quando estão prontos, eles mesmos tomam a decisão e fazem, sem que precisemos intervir.
É só observar e respeitar.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Dá pra parar de crescer...???



Você percebe que seu filho cresceu quando ele pede um pão, você diz que já vai, mas na verdade esquece o pobre filho com fome, e ele vai SOZINHO na cozinha, corta o pão no meio (é com faca, bem perigoso, eu sei),  passa o doce (é, com faca, bem perigoso, eu sei), e aparece na sua frente bem feliz dizendo: pronto mãe, já fiz....

duas coisas:
1- tá mal de mãe, o meu filho.. eu no face e ele tendo que fazer o pão sozinho...
2- aos 3, fazendo o próprio pão...??? tô achando que com 15 vai arrumar a mala e sair mochilando pelo mundo...!!!
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Outra coisa que faz com que se perceba que seu filho cresceu: eles pedem "por favor mamãzinha", para que a Lara e o Felipe (amigos da escola e gêmeos e nascidos dois dias depois deles, filhos de amigos queridos) durmam na "minha casa,no meu berço, eu vou caber no meio deles"....

é mole né.... não basta querer dormir na mesma casa, tem que ser no mesmo berço....!!!

#aos3.... tá facil pra mim né...
(detalhe, quem pede isso é o Henrique, e quem faz o próprio sanduíche é o Miguel...gêmeos, idênticos,mas nem tanto...)

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Coitada...???

Quem é mãe de múltiplos passa por situações bem inusitadas, e algumas recorrentemente desagradáveis. Uma delas é ver uma pessoa vindo na sua direção, e quando ela percebe que são gêmeos, solta aquele: "ai coitada, eu com um já fico louca"...

Bom, quem fica louca somos nós... por vários motivos, que não a quantidade de filhos que temos.

Primeiro: não precisamos de compaixão, precisamos de alguém que nos ajude a lavar a louça, dobrar a roupa, ou até pagar um boleto, por exemplo, quem sabe...
Segundo: uma mãe que diz que fica doida só com um filho, provavelmente achou que poderia ter filho e continuar lendo seu livro, assistindo seu programa de TV favorito, recebendo amigos e tendo a casa impecavelmente limpa e organizada, ou seja, idealizou algo que não existe. Ou então não está dando a atenção que seu filho pede, e ele dá um jeito de conseguir, nem que seja na marra e na birra.
Terceiro, às vezes a gente já tá bem cansada mesmo, ter gêmeos é bem cansativo, por mais organizada que se seja, e ouvir um comentário como esse não nos dá nenhuma motivação a mais, pelo contrário, nos faz pensar que somos mesmo umas coitadas. Ou nos leva a pensar que parecemos pandas de tanta olheira e que devemos gastar um pouco mais com maquiagem.

Isso acontece com quem tem gêmeos, em geral duas crianças.

Quando a gente tem gêmeos mais um, a coisa é diferente.

Além do "ai coitada", a gente escuta: meu Deus, que corajosa... meu Deus, que doida... meu Deus, essa menina não sabe o que é anticoncepcional.... enfim, todo mundo acha que pode se meter mais ainda na sua vida e perguntar como você engravidou tendo dois bebes pequenos, como você vive, como você ainda não se internou no pinel, além do odioso: mas tu laqueou né..??? (não, não laqueei, e sim, se eu ficar ryca e phyna eu quero mais filhos, só pra polemizar.. hehehe), ...

A verdade verdadeira é que as pessoas pensam que é muito pior do que realmente é.

O grande lance de quem tem, e ama, e cuida e educa vários bebês ao mesmo tempo é que a gente aprende a amar de verdade. Amar mesmo, aquele amor que se doa. A gente aprende que não vai mesmo tomar banho em paz, vai ter sempre um filho chorando na porta. A gente aprende que precisa se organizar e faz de casa um quartel general. A gente aprende a se dividir em 3, no meu caso, e entender a necessidade particular de cada filho (não é assim tão simples, mas a gente vai entendendo o processo aos poucos). A gente aprende a se esquecer. Se esquecer é meio complicado. Esquecer as suas necessidades é bem dificil. Compreender que num período curto da vida, eu não sou o centro do meu universo. ]É abrir mão de si mesmo.

Nesse momento, eu não sou o centro do universo. Nem do universo mesmo, nem do meu universo. TUDO gira em torno das necessidades dos meus filhos. Se comeram, se dormiram, se estão bem de saúde, se precisam brincar, ou descansar, se tem um programa de findi legal pra levá-los...

Mas eu não sofro por isso (pelo menos não nas 24 horas do dia... só uns 30 min...).

Eu percebi que isso vai passar, eles vão crescer e eu vou ter a minha vida inteira ainda pela frente. Eu os tive cedo, ainda tenho 25 anos (cof cof cof - mentira...). Tenho muito tempo pra investir na minha carreira. Tenho muito tempo pra investir no meu corpo (academia e afins de vaidade feminina). Tenho muito tempo pra investir no casamento. Mas tenho pouco tempo pra estar com eles, pra criar com meus filhos uma relação  íntima, verdadeira, real... de confiança, de amor... Eu acredito que isso acontece e se firma nessa primeira infância, nesses primeiros anos de vida e de dependência emocional e física. E eu não quero, e não me permito perder isso.

Então, eu não sou uma coitada, nem uma doida, nem muito menos corajosa.
Eu sou alguém que aprendeu a amar.
Sou uma mãe que aprendeu a se doar, a doar o que há de melhor em si...
E alguém que consegue isso, não é uma coitada, é uma escolhida...!!!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Rotina...

Ontem caí numa discussão sobre a tal rotina pros gêmeos... via facebook...e fiquei bastante incomodada com algumas coisas que li...

Eu,como toda BOA mãe de gêmeos, tb tenho a minha rotina... meus filhos tem a hora de tomar mamadeira, de comer o lanchinho, de almoçar,de dormir (ou não), de tomar banho, de tudo... mas com o tempo aprendi que nada é tão imutável assim...

A rotina da hora do banho e sono eu comecei quando cheguei do hospital com eles... comecei dando banho no horário normal pro sul de SC (entre 19.00 e 21.00)... daí percebi que quanto mais cedo o banho, mais cedo acordavam (depois do banho e da "última mamada" extendiam o banho até umas 4 hroas seguidas) então passei a postergar o banho até as inacreditaveis 22.30 ou até mesmo 23.00. Eles tomavam banho, mamavam e dormiam até umas 3.00 ou 4.00h da manhã... com o tempo eles foram dormindo mais e quando alcançaram as 6horas da manhã eu fui puxando o banho pra mais cedo...

Agora, a mamada... isso não teve rotina... não que eu não tivesse tentado não... eu tentei, eu deixei filho chorando pra esperar a hora de mamar (de 3 em 3,por 20 minutos cada um, como todo "excelente" pediatra aconselha)... Mas não me orgulho de ter feito isso... era doloroso pra mim, pra ele, ninguém ficava feliz, não valia a pena... Então, como eu percebi que isso não era muito produtivo, até porque meu peito vasava enquanto ele chorava, eu passei a implementar a LIVRE DEMANDA...

Livre demanada é quando você percebe, aceita e entende que seu bebê, pequenino, frágil, RECÉM NASCIDO (isso vale até os 3 meses... até 3 meses TODO bebê é considerado recém nascido, os pré-maturos, nem se fala) ainda não percebeu que saiu da barriga...!!! Ele não tem noção de dia, de noite, muito menos de horário... ele quer colo sim, ele precisa mamar o tempo todo sim, porque só assim ele se conecta ao universo que ele conhecia até então, o útero...  A livre demanda consiste em dar peito cada vez que seu bebê solicitar, mesmo que ele tenha mamado há 15 minutos atrás e o irmão esteja no peito ainda... você tem dois peitos, não tem...???

Limitar o tempo de um RN no peito da mãe, limitar quando ele vai voltar a mamar, é cruel, é desumano, é desamor... meus filhos ficavam uma hora no peito cada um... mamavam, dormiam,mamvam, riam, mamavam, brincavam, mamavam, dormiam... e nunca esperaram três horas de intervalo... era de duas em duas no máximo... sim, eu passava o dia de "tetas" pra fora, amamentando... mas foram só 4 meses... só 4 meses de uma vida inteira que eles não vão ficar no meu colo, mas no mundo... era cansativo, sim, muito, muito cansativo... eu chorei muitas vezes de exaustão, mas valeu a pena... valeu a conexão que só eu tinha com eles, valeu saber que eu era capaz de SOZINHA,sem complemento, nutrir meus bebês... porque quanto mais eles mamavam, mais leite era produzido (quanto mais estímulo, maior a produção).

Meus filhos tiveram refluxo, muito refluxo. Mas cólica não... Cólica não porque, quando eu ainda estava grávida ganhei e li um livro que me esclareceu muito sobre a tão famosa cólica até os 3 meses. Essa cólica, que some instantaneamente com 3 meses, não tem NADA a ver com dor de barriga. Se você dá simeticona (luftal) para seu filho e ele continua chorando e não solta pum, mais um motivo pra entender, por favor, que ele NÃO TEM DOR DE BARRIGA.

Essa cólica tão famosa consiste num colapso do sistema nervoso, que ainda não está pronto. Significa que ele está sendo muito estimulado, com cores, visitas, musicas, TV, e como ainda não sabe "desligar" quando cansa, a noite, quando passa do limite do sistema nervoso dele, ele sente dor no corpo todo... mas não é bem dor, é cansaço mesmo. A gente também chora de cansaço não chora... imagina um bebezinho.

Quando os meus começavam a choradeira da cólica (e como tinha gente que dizia: essa criança tá com dor de barriga!!!) eu fazia com eles um charutinho de bebê, ou seja, enrolava bem apertado eles numa manta, apertava os bracinhos, as pertinhas, tudinho, e pegava no colo bem forte e chiava no ouvido. Coisa de louco? Vejamos: no útero, o bebê fica no apertadaço,não fica...??? no fim da gravidez ele mal pode se mexer...!!! no útero o que ele ouve? a circulação da mãe, que parece com um..... chiado...(Nas US dá pra ouvir)... então, reproduzindo o ambiente que ele conhecia até então,ele se acalma... tb dava uns tapinhas (de leve, lógico) no bumbum,  essas batidinhas reproduzem os batimentos cardíacos da mãe...  Era tiro e queda... iam acalmando,acalmando, acalmando, e dormiam..... fiz exatamente as mesmas coisas com minha bebê (que hoje tem um aninho) e tb, nada de cólica, nem refluxo, remédio ela mal sabe o que é... e sempre dormiu bem, e também mamava quanto e quando queria (inacreditavelmente, de 4 em 4 horas e por 5 a 10 minutos... LIVRE DEMANDA, quanto quer, quando quer)

Acho que isso é respeitar a criança, respeitar sua imaturidade, respeitar seu tempo, respeitar suas necessidades, repeitar sua individualidade. Uma criança não é um robô, que vai fazer tudo que você manda... um RN, menos ainda... de novo, ele nem sabe que nasceu (se for de cesária eletiva, piorou de vez), ele nem sabe o que ta acontecendo, ele mal chegou... como você quer impor as SUAS necessidades, SUAS expectativas, SEU tempo a ele....??? Rotina, disciplina, pra RN....???? desculpa, isso pra mim é loucura...!!!

Quando eles começaram a comer frutinhas, aí eu entrei com a rotina da alimentação. Mamavam as 7, comiam frutinha as 10.00, e seguiam mamando. Quando começaram as papinhas salgadas, almoçavam ao meio dia, mamadeira de tarde, janta as 18.00, banho e ultima mamada as 21.00...

Ainda hoje é assim... eles tem 2a8m,e seguem os mesmos horários, mesma rotina... Agora não querem mais dormir depois do almoço, então vão dormir logo depois da janta, entre 19 e 20 horas. Eles optaram, eles quiseram... com 1a2m simplesmente não conseguia fazer eles dormirem depois do almoço, então passei a brincar o dia todo e coloca-los pra dormir mais cedo... eles descansam, e eu também... mais até do que na hora do soninho da tarde.... tenho tempo de jantar, de limpar a casa, de trabalhar, de conversar (e namorar) com o marido... até visita eu recebo a noite, quando eles dormem...

Mesmo com a livre demanda, apesar da livre demanda, eu não fiquei louca.
Meus meninos comem bem, dormem bem, dormem cedo... minha bebezinha também come bem, e dorme bem, e cedo...
Meus filhos tem horarios e regras e limites sim...
Mas cada coisa a seu tempo, cada coisa no tempo DELES...

Não no meu...