quarta-feira, 18 de março de 2015

Há quase 5 anos

(Vou escrever relatando o que senti e vivi naquelas últimas horas gestando meus meninos. Não quer dizer que eu sentiria tudo da mesma forma novamente, e nem que tenha sido ruim ou bom. Foi como foi, e sou
grata ao caminho que trilhei. Isso não me impede de ver que poderia ser diferente, se eu fosse diferente. Aquela já não existe.E nem essa existirá amanhã.)

Lembro bem daquela última noite gestando. Eu não havia agendado a cesariana, mas há mais de 15 dias vinhamos acompanhando com cardiotocos e ultras quase diários o desenvolvimento dos meninos, que insistia em acusar "abaixo do percentil 10". Não havia muito o que fazer. Deveria fazer repouso, me alimentar bem, ficar atenta à movimentação intra-útero e aguardar qualquer sinal de maturidade (deles, a minha só teria uns 40 dias depois). Somado a isso, tive prurido gestacional, uma espécie de reação do corpo aos hormônios da gravidez. Eu me coçava inteira e tenho até hoje cicatrizes pelo prurido.

mais ou menos 5 meses.
mais ou menos 7 meses

15 dias antes do nascimento deles. por volta de 34 semanas.

Era um mês de março quente. Lembro de ficar no ar condicionado e com dois ventiladores, compressa gelada sobre os locais da coceira e ainda assim suar bicas.

Lembro também de ir fazer os exames reclamando muito. Não porque fosse chato (e era). Não porque aumentasse minha ansiedade (e aumentava). Não porque eu sabia, no meu coração, que estava tudo bem (e eu sabia). Mas porque eu estava tão entregue ao "lugar comum", ao "trabalhei até o dia de ganhar", ao "saí do trabalho e fui pro hospital", que eu achava muito porre ter que parar meus trabalhos para ir lá "perder" uma manhã fazendo exames. Eu não me orgulho disso.

Lembro que sentia muitas dores na pelve, e no corpo todo pelo inchaço. Lembro de sentir muitas contrações, sem dor e sem ritmo (pródomos). Lembro de aguardar ansiosa o tampão. Lembro de ter medo de fazer cocô e parir os filhos na privada (oh ignorância, como se fosse assim!). Lembro de estar tão cansada. De me sentir tão "coitadinha". Lembro de martelar em mim mesma: "gravidez de risco". E lembro de nem assim eu parar para cuidar de mim e dos meus filhos.

Estávamos com um projeto atrasado e eu cismei que só poderia parar quando finalizasse esse projeto. Passava a maior parte do tempo trabalhando no computador, apesar de muito inchada e irritada. Naquela noite fiquei até mais tarde trabalhando porque ia fazer uma ultra de manhã cedo e queria parar depois disso. Dormi mau, acordando de hora em hora e precisando de um guincho pra levantar. Acordei ainda pior. E fui.

36 semanas e alguns dias. Crescimento "abaixo do percentil 8". Placenta ok. Cordão fluxo ok. Bolsa aminiótica ok. Baixa na quantidade do líquido aminiótico. Duas circulares de cordão no gemelar 2. Os dois cefálicos.

Fomos pra casa e a primeira coisa foi ligar para o obstetra.
- "aham, tá... então vai tomar um café bem reforçado, com frutas, pão, leite, se abastece. Te encontro as 14.00 no hospital"
- "ai Dr., pra quê? não quero ir lá de novo"
- "hj seus bebês vão nascer, estava só esperando um sinal. a baixa do LA foi esse sinal."

(isso, isoladamente não seria indicação de cesariana. nem sei se no quadro geral seria. penso que poderia ter induzido o parto. mas honestamente, mais de um mês com restrição de crescimento, mesmo com tudo o mais ok. eu não havia estudado nada. eu não conhecia a indução de parto. eu tinha medo. muito medo. e fui pro hospital.)

aí vc pensa: finalmente ela vai parar né? terminar de arrumar a bolsa, sei lá. Nãaaao, querida amiguinha. Eu voltei pro computador e só parei porque deu 13.00 e todo mundo me xingou porque eu ainda não tinha ido tomar banho.

Tomei banho. Escovei cabelo. Me maquiei (aham, eu fui dessas, mimjulguem). E fui.

As 15.00 meus filhos nasceram.
E daqui pra frente eu já contei em outro post.

primeiros minutos de vida

primeira vez que peguei meus filhos no colo

reconhecendo meu bebê



  



roupa de prematuro ficando imensa!

Primeira mamada efetiva





dormi muitas noites assim.. e sinto muita saudade!



opa... parece que alguém dormiu... e não foi o bebê













Conto isso hoje, porque fazem 5 anos. Conto porque gostaria de ter vivido isso diferente, apesar de saber que naquela época eu não poderia viver isso diferente. Conto porque a cada véspera de aniversário deles eu relembro minuto a minuto. E me emociono. Não é nostalgia. Não é saudade. Não é culpa. Mas é forte, é real, é intenso.

Naquele dia meu mundo mudou. Naquele dia eu morri e renasci. Naquele dia minha vida começou. Naquele dia eu descobri o universo inteiro no meu colo. Naquele dia, com aqueles dois chorinhos, com aqueles dois ratinhos. Naquele dia.


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